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Meus queridos, a postagem abaixo foi a última neste endereço. A partir de agora, meu blog (textos novos e antigos) estará no site do jornal O Diário. Acesse: odiario.com/blogs/luoliveira. Espero contar com vocês todos que já "passaram" por aqui! Beijo grande!!! LU - 08/09/10

sábado, 14 de agosto de 2010

Confissões de uma professora

           







Estou decepcionada com a educação. Depois de 13 anos de tablado, sinto-me, pela primeira vez, de fato desiludida com a sala de aula. Ainda mantenho, em meu Orkut, comunidades como "Sou uma professora feliz" e "Amo meus alunos e ex-alunos", mas confesso que as coisas já não têm o mesmo sabor de antes.
            
            Sei que uma declaração desse tipo pode até macular minha imagem profissional, entretanto as palavras neste momento saem do meu coração e vão direto para as minhas mãos, para o teclado... Se fossem para a minha cabeça primeiro, possivelmente eu não escreveria este texto, afinal, o que as pessoas vão pensar de mim???
           
            Muitos de meus colegas compartilham do que desabafarei "aqui", mas é claro que o receio de perder o emprego às vezes fala mais alto. Já foi assim comigo também. É que, agora, estou em uma situação mais confortável, sem "amarras"...
           
          Tenho muita dificuldade de conviver com a hipocrisia. Possuo muitos defeitos, mas ser hipócrita, graças a Deus e aos valores que meus pais me passaram, não está na lista das minhas imperfeições (que são muitas!!!).
          
           Hoje o professor tem que se dobrar, se curvar para alunos, pais e coordenação. Nossa autoridade termina no valor de cada mensalidade. Não posso dizer muita coisa da escola pública. Sou "filha" dela, mas nunca trabalhei em colégios públicos e os episódios que me são relatados por colegas não me dão autoridade para tecer comentários e/ou julgamentos.  
         
          Mas conheço bastante a rede particular. Colégios maiores, menores. Colégios "mais famosos", "menos famosos". Colégios do centro, de bairros. A realidade é bastante semelhante. No fim das contas,  importante mesmo é que o aluno passe de ano.
        
          A famosa "inclusão social" , por exemplo, que na verdade não inclui ninguém, é uma tentativa simplista de parecer que as instituições estão de fato preocupadas com as pessoas especiais. Muitos pais não admitem que seus filhos possuam alguma dificuldade para aprender, uma deficiência  (algum problema em admitir isso???) e exigem que eles convivam com colegas em uma escola comum, mesmo que lá não seja o local mais adequado para externarem seu potencial (e eles têm muito!) 
    
            Ora, a maioria dos professores não tem preparo para lidar com certas situações e apenas oferecer material teórico sobre cada tipo de distúrbio, síndrome ou doença não faz milagre! Então, surgem as famosas "provas mediadas", a grande salvação para fazer de conta que essas crianças estão realmente aprendendo.

             Alguém lê o enunciado da avaliação em voz alta, disfarça um pouco e logo em seguida dá a resposta para o aluno. Ele tira nota, os pais ficam felizes, a criança também, a escola é reconhecida pelo "esforço" em incluir e todo mundo se abraça no final.

               É claro que não posso generalizar. Não seria correto, principalmente para uma professora de redação que tanto dá esse conselho aos alunos. Mas as exceções são poucas, podem acreditar.

              E quando você é obrigada a aceitar trabalhos fora do prazo, por exemplo? "Ah, professora, dê uma olhadinha com carinho... A mãe é tão chata...". Mãe chata? Então esse é o critério? Alunos filhos de mães chatas conseguem entregar trabalhos fora do prazo, às vezes até valendo a mesma nota? Ninguém merece!!!

            Algo que também me incomoda muito é lidar com "órfãos de pais vivos". Hoje, famílias às vezes "surgem" de uma mera relação sexual (queria escrever um termo chulo, mas minha elegância não permite...). Crianças são criadas, não educadas. Porcos, galinhas, cachorros e passarinhos também podem ser "criados". Comida, bebida, roupa? Isso é fácil. E transmitir valores? E dar exemplos? E cobrar?

             Ai, ai, ai... Acho que já desabafei demais. Como não citei nomes, acredito que não receberei nenhum processo. Se fosse relatar tudo que já vi e ouvi em sala de aula, corredores, salas de professores e afins, conseguiria finalmente escrever o livro com que tanto sonho.

             Aliás... essa não é uma má ideia: quem sabe este texto, do meu simples blog, não seja o começo de muitas páginas???

   



11 comentários:

  1. Oi, professora! :D
    Fiquei admirada com seu depoimento, até mostrei para a minha mãe, que também é professora (espero que minha O. S. Adjetiva esteja corretamente empregada neste caso) e ela também ficou admirada. Você foi muito corajosa.
    É triste que a educação do nosso país esteja assim. Para mim, a profissão professor é a mais bela. Até mais que ser um médico, muito mais aliás.
    Muitos professores estão cada vez mais desmotivados, então vemos a enorme quantidade de desistências da sala de aula e, daqui alguns anos, veremos também que a profissão estará escassa!
    Eu realmente acho que depoimentos assim deveriam chegar a autoridades competentes.
    Apesar de tudo, é um belo texto. Escrito com a emoção, isso é muito bonito.
    Espero que seja sim, apenas o primeiro de um livro.

    Beijo

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  2. Oi, Gabi! Obrigada pela comentário! Continuo acreditando em minha "missão" como educadora, mas talvez agora eu escolha outros para cumpri-la. Beijo grande, minha querida!

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  3. lucianebaratela@gmail.com15 de agosto de 2010 às 10:45

    Fico pensando como as escolas (provedoras de tanto conhecimento - pelo menos na teoria) não admitiram(ou não quiseram admitir) que elas tinham contratado não apenas uma professora, mas sim uma educadora em potencial!!! E não apenas uma educadora, mas também uma escritora nata; e não apenas uma escritora, mas também uma das pessoas mais sábias e sensíveis que já conheci... e que por generosidade de DEUS é minha irmã... Te amo e estou com você...

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  4. Adorei ler o seu texto.
    Ser professor é um dom divino e vc possui este dom.
    É mto bom ver que depois de 7 anos vc continua a mesma docente dedicada e consciente do mundo a sua volta.
    Obrigada por tudo, vc fez a diferença na minha vida.

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  5. Quem é você, "anônimo"????
    Preciso saber!!!!!!!!!!!!

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  6. Lu, querida, vc retratou de maneira muito fiel a realidade da educação brasileira...acho que o grande problema é mesmo o fato de a escola ser, antes de mais nada, uma Empresa e, como todas elas, o resultado positivo é uma exigência de alunos e pais, coordenadores e diretores. Nessa, sobra para nós, professores...
    Bjao pra vc, Bia

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  7. Olá Professora Lú.

    Infelizmente o mundo que vivemos é baseado no sistema de consumo, baseado na "coisificação" dos valores humanos. O sistema por si só ensina que "o individuo deve ter para ser". Não sei aonde se encontra a consciência sobre a importância de aprender, a importância de saber viver e aguçar os sentidos para o discernimento sobre a vida.

    Hoje estou com os meus quase 30 anos (29 anos ainda...hehehe) e minha maior preocupação é em ser um individuo completo para que em um futuro próximo eu possa educar meu filho ao mundo, porém com a sensibilidade dos valores humanos. Ensiná-lo a pensar, saber discernir os fatos em suas singularidades, respeitar todas as diferenças (religiosas, raciais, culturais) e principalmente as duas figuras sociais que merecem respeito absoluto: Os pais e os professores.

    O mesmo respeito que eu dedicava aos meus pais eu dedicava aos meus professores e acredito piamente que isso venha do lar. Lar, o que falta para muitos adolescentes. Hoje muitas famílias têm uma casa, mas poucas têm um lar. Hoje os pais compram o respeito e admiração dos filhos. Acho isso um absurdo e medonho. Imagino o individuo social que andará pelas ruas daqui uns 15 anos. Será o mesmo individuo que não terá valores ou conceito moral sobre a importância do próximo, o mesmo individuo que será capaz de atropelar alguém na faixa de pedestre ou queimar um mendigo. Quem sabe?

    Falta sensibilidade. Inteligência não é Conhecimento = Individuo apurado. A inteligência é uma soma de valores morais e muita sensibilidade humana. É a soma de Razão + Sensibilidade + Discernimento + amor a vida = que resulta em um ser humano capaz de respeita e compreender.

    Dentre as figuras que representam a minha evolução como individuo, tenho muito respeito pelos professores que tive. Eles fizeram e fazem parte dos pilares positivos que sustentam os meus valores pessoais. Para mim o conhecimento é um alimento para a vida. A sensibilidade daqueles que me ensinaram a aprender é um alimento para a minha alma. É isso que quero passar para os meus filhos.
    Mas espero, professora Lú (pois ainda estou aprendendo com você!) que esses fatores não apaguem a grandiosa pessoa humana e a incrível sensibilidade que você tem para educar. Tive muitos professores, sem sombra de dúvida todos tinham um grande conhecimento, mas poucos tinham a sensibilidade para educar. Educar é tão nobre quanto curar. Para educar é necessário ter uma sensibilidade incrível para ver as fragilidades e potencias do aprendiz. O educar não utiliza apenas o giz e o conhecimento, mas sim, a observação e a sensibilidade humana. Eu tenho muito respeito sobre a sua pessoa, pois ainda carrego comigo os valores que com muita paciência cultivou neste seu aluno. Educar é um arte.

    Márcio Domenes

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  8. PS: Minha digníssima namorada é professora. Leciona inglês e língua portuguesa. Nós nos conhecemos através da paixão a literatura e outras artes. Enfim, sempre conversamos sobre a vida, passo muitos documentários, alguns ela utiliza com seus alunos. Conversamos muito sobre a nobreza da alma, a educação. E sempre que entramos nesse assunto, educação e educadores, sempre menciono com muita estima a sua preciosa pessoa e outros poucos (porém grandiosos) professores(as) que fizeram a diferença e aguçaram a minha percepção nessa jornada que se chama vida.

    Mostrei seu blog a ela, gostou muito!


    =D

    Márcio Domenes

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  9. Ah, Márcio, não tem noção de como suas palavras me fazem bem. Não somente por que me elogiam, mas principalmente por constatar que você, que já era um adolescente admirável naqueles tempos, tornou-se um homem que "sabe das coisas". Não o considero mais apenas como um ex-aluno, mas como um amigo querido, com quem gosto de trocar ideias. E também é bom saber que está "enamorado". Um dia quero poder revê-lo e conhecê-la também. Continue comentando, ok? E faça críticas, se achar necessário. Elas são sempre bem-vindas! Quanto à minha missão como educadora, jamais a abandonarei, tenha certeza. Só que, agora, minha intenção é trilhar novos caminhos... Um grande abraço!!!

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  10. muito legal esse texto o pior é que é verdade!!!!!

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