Quem sou eu

Minha foto
Meus queridos, a postagem abaixo foi a última neste endereço. A partir de agora, meu blog (textos novos e antigos) estará no site do jornal O Diário. Acesse: odiario.com/blogs/luoliveira. Espero contar com vocês todos que já "passaram" por aqui! Beijo grande!!! LU - 08/09/10

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Até que a morte os separou...

Noite e coração quentes. A brisa ajudava a amenizar aquela terrível sensação de que o corpo estava preste a derreter, mas o coração continuava quente.


Durante todo o dia ocupou-se com os preparativos para a festa surpresa. Coisa simples, é verdade. Salgadinhos e doces feitos em casa mesmo, refrigerantes comprados no mercadinho da esquina, pães com carne moída para ajudar a saciar a fome dos poucos convidados. Desejava uma festa maior e melhor para comemorar os 18 anos do filho, mas, sem poder contar com a ajuda do pai, que apenas contribuira com o material genético, aquela modesta comemoração era tudo que ela podia oferecer.


Mas o filho compreenderia. Havia chamado alguns parentes e os amigos da escola, aqueles com quem gostava de sair aos finais de semana. Jovens animados, gente do bem, assim como seu rebento.


Ele logo chegaria. Tinha o hábito de ir direto para casa depois do trabalho. Com aquele tempo quente, então, com certeza desejaria tomar um bom banho e se refrescar antes de sair para a casa da namorada.


Sim, ele tinha uma bela namorada. E apaixonada. Contrariando as piadas, sogra e futura nora se entendiam muito bem. Tinham planejado juntas a festa surpresa.


Já passava das sete. A mãe começava a estranhar a demora. O trabalho não ficava tão longe e, normalmente, ele chegava em casa antes desse horário. Não quis ligar, podia desconfiar, ouvir algum barulho. Preferiu esperar.


Todos já estavam lá. O cheiro da comida quase fazia os convidados esquecerem que precisavam aguardar o aniversariante. Uma música animada e um burburinho tomavam conta da singela casa de quatro cômodos.


De repente, o som do telefone. A mãe, como que adivinhando, sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Do outro lado, uma voz grave e forte perguntou pela dona da casa. “Sou eu”, respondeu, com voz trêmula. Então veio a notícia: o seu menino, o seu presente divino não chegaria para aquela festa e nem para mais nenhuma. Um acidente na volta para casa tinha acabado com os sonhos de uma mãe e de um jovem de 18 anos.


Desespero, choro, lamentações. Uma festa transformada em pesadelo. Jovens abraçados pelos cantos, expressões de dor, sofrimento.


No dia seguinte, no jornal, ele era mais um número na triste estatística de acidentes no trânsito urbano. Ela, mais uma mãe tendo que aprender a viver sem seu maior tesouro.


Obs.: Esta é uma obra de ficção, mas qualquer semelhança com fatos da vida real não terá sido mera coincidência.

Um comentário:

  1. Nossa, professora, belíssimo texto. Mandou bem na escolha da imagem.
    Fiquei até sem palavras. :T


    Beijos

    ResponderExcluir